Saída

Férias um destino, viajar um ato

A chuva atacou-nos enquanto esperávamos o ferry para Almirante.

Não era nem meia milha até o cais, mas já estávamos encharcados até os ossos por uma forte tempestade matinal. Céus escuros reinavam sobre nossas cabeças enquanto um sol manso tentava criar algo parecido com 8 da manhã. Fechar o Loco Dave's Bookstore Bar apenas algumas horas atrás me deixou um pouco pior, mas com Poe e Hemingway me encarando de seus lugares pintados na parede, não poderia pensar em maior desserviço a essas lendas literárias do que fechar o livro antes que a tinta seque.

Infelizmente, lá estava eu ​​nas docas de Bocas Town, Panamá, encharcado por dentro e por fora, mal equipado para embarcar em uma longa viagem a San José, Costa Rica.

 

Viajar é doloroso

 

Três dias antes, um assento implacável atrás do motorista forçou meus joelhos e minha mochila contra meu peito. Pedalando até o chão, atravessamos a selva, árvores batendo nas janelas de ambos os lados enquanto nos afastávamos da Cidade do Panamá. Uma viagem noturna de 600 quilômetros significava dormir em intervalos de 10 minutos com os músculos do pescoço contorcidos como animais de balão e comprimir nossos esqueletos em formas compactas quase do tamanho de nossas próprias malas. 

 

Doze horas depois, saímos mancando do ônibus. Um táxi rápido e apertado nos levou de Almirante ao cais. Seguiu-se um passeio de barco esburacado e, finalmente, um sol nascente nos deu as boas-vindas à cidade de Bocas. Uma cama de albergue nos convidava a relaxar e recuperar, mas a aventura raramente espera por alguém. Assim que deixamos nossas malas, embarcamos em outro barco e nos aventuramos a explorar Bocas del Toro – dores e cansaço que se danem. 

 

A viagem é incerta

Duas noites em Bocas Town foram suficientes para aceitar o desafio de mais um longo dia de viagem – ou assim pensamos. Nossas mochilas estavam encharcadas antes da balsa partir para Almirante. As ondas batiam no casco com rebeldia enquanto a bebida em nossas barrigas fazia o mesmo. Nossa chegada ao continente veio com uma oportunidade tentadora: transporte sem preocupações direto para San José.

 Embora um viajante sábio e cansado possa ter aproveitado a chance de trocar a incerteza por conveniência, conforto e clareza, meu companheiro e eu tomamos a decisão muito antes de chegarmos a essa encruzilhada de que nos aventuraríamos pela fronteira com raramente mais do que nossa inteligência e nossa vontade. 

Não há transporte pré-reservado. Nenhuma rota planejada. Sem tomar o caminho mais fácil.

Estávamos indo para San José da maneira mais difícil.

Rejeitamos a oferta e vagamos ainda mais fundo na tempestade, sem saber se estávamos indo na direção certa até chegarmos à estação de ônibus um quilômetro e meio depois. Passamos pela primeira transferência em Changuinola, nossos gritos de “Frontera? Fronteira?” ecoou com “Guabito! Sixaola!” por vendedores ambulantes e transeuntes. Pulando em um ônibus aleatório que saiu para a rua, ficamos aliviados quando chegamos à fronteira.

A viagem está resgatando

 

Passaportes carimbados e estômagos cheios, continuamos com base no mau julgamento, sugerindo que a cidade de Margarita estava a uma curta distância de Sixaola. Nós nos secamos sob o sol da Costa Rica, passeando pelo trecho vazio da estrada ladeada por plantações de banana. Depois de uma hora cambaleando em direção a uma cidade que nunca se materializou, voltamos e voltamos para Sixaola.

 

O atendente do terminal de Sixaola afirmou que Margarita estava a 20 quilômetros de distância e ofereceu nossa única opção realista: comprar uma passagem de ônibus para a capital do país. Sem nada a ganhar com uma longa caminhada até Margarita, nos instalamos no ônibus com ar condicionado. Ao passarmos por Puerto Viejo de Talamanca e Limón, olhando por trás de uma janela, nos perguntamos o que poderia ter sido se tivéssemos conseguido amarelinha a última etapa da viagem de ônibus. 

Nos arredores de San José, o olhar imponente do vulcão Irazu nos informava que nossa aventura ainda não havia terminado. Doloridos e sem sono, carregamos nossas mochilas nos últimos quilômetros até o albergue, preparando-nos mentalmente para os muitos quilômetros de viagem que ainda estavam por vir. 

As férias são um destino, mas viajar é um ato. É a jornada que muitas vezes define a experiência. Viajar pode ser doloroso, física e emocionalmente. Aventurar-se em partes desconhecidas força a incerteza no itinerário. Pode ser assustador e frustrante, e ainda assim, libertador. Antecipar horários rígidos convida a espontaneidade ao cronograma. Quando desafiado a percorrer a estrada menos percorrida, a jornada pode ser mais gratificante do que o destino. 

 

Viajar é tudo – excitante, exigente, feio e bonito. Mas uma coisa é certa: viajar é gratificante. Eu vou escolher o caminho mais difícil todas as vezes. 

Veja este artigo na revista

postar um comentário

57 - = 56